A Chance de ter uma Chance!

Comemoro! Pois viver com uma gota de esperança é melhor que nenhuma gota.

O dia em que 195 nações, grandes, pequenas, pobres, ricas, venceram uma etapa crucial em qualquer processo de cura: Comemoro o Fim da Negação.

Da negação que não somos nós mesmos, os responsáveis pelas possibilidades presentes e futuras de destruição da vida neste planeta, ou de sua evolução.

Há tempos me dedico a estudar os efeitos da civilização na natureza. Meus interesses são de muitas dimensões.

Primeiro como pai, uma vez que assumi os encargos de trazer a este mundo um belo ser, como posso não lhe dar a possibilidade de continuidade? Qual seria o sentido de trazer ao mundo crianças que antes de completarem 40 anos de idade poderiam estar vivendo em situação catastrófica?

Segundo como pai simbólico, uma vez que considero o humano uma das forças que cria cooperativamente este universo. Neste sentido somos pais, e reponsáveis, pelo futuro que criamos.

Terceiro, tendo escolhido viver fundamentado em valores taoístas, um sistema de saber que defende a integração harmônica entre homem e natureza, tenho interesse em estudar as diversas propostas para esta integração: Os caminhos de consciência, de cura, da ciência, dos inventos, entre outros.

Quarto, tendo um passado e ainda algum presente como homo cientificus, desde antes da virada do século já escutava meus professores em ciência falarem: Quando ligamos nosso carro queimamos um dinossauro, isto não vai acabar bem, pois os dinossauros não são renováveis.

Naquele tempo mal sabia que eles já estavam divulgando o resultado do Primeiro Relatório do Painel Intergovernamental para Mudança Climática.

Atenção aqui! Pois considero este um ponto chave da nossa chance de ter uma chance.

O primeiro relatório foi lançado em 1990. Levamos 25 anos para terminar o processo de negação!

Não foi fácil. Eu mesmo balancei durante o processo. As campanhas ilusórias da mídia da indústria de energia que domina o planeta foram fortes. Em alguns momentos quase fiquei convencido do discurso da negação. De que não temos nada a ver com o que acontece com o planeta.

Finalmente, ano passado recebi um presente: Um curso da Universidade de Queensland, Australia, focava não apenas em ciência, inspirada pelo mundo dos detetives, em busca dos responsáveis, como trazia também elementos de psicologia e sociologia para desconstruir os mecanismos de negação.

Aconselho a todos que percorram as trilhas deste curso chamado: Making Sense of Climate Science Denial, disponível na Plataforma EDx.

Voltemos agora as nossas chances de ter chance. Um olhar atento e focado sobre o planeta

Acabou a negação, mas levou 25 anos para isto. As campanhas da      indústria de energia suja foram bem sucedidas do ponto de vista  estratégico. Ganharam tempo, muito tempo.

Agora temos, segundo Laurent Fabius, relator do Acordo de Paris: um  acordo equilibrado, ambicioso, durável, vinculante e justo.

Temos metas de elevação de temperatura que possibilitam a saúde do planeta (1,5-2 graus C), temos planos de apoio financeiro (100 bilhões por ano a partir de 2020) e temos compromisso dos dois gigantes poluidores (EUA e China). Segundo Bill McKibben (ONG 350.org): o entendimento mostra que os governos parecem reconhecer agora que a era dos combustíveis fósseis tem que acabar.

E isto sim, é comemorável.

Porém, chamo atenção para as sombras. Não por um ato pessimista num momento de comemoração, mas porque precisamos continuar agindo. O tempo está contra nós:

  • O documento não tem força de lei internacional, mas acordo de intenções
  • Os Estados Unidos consideram ainda que o controle de suas emissões é um assunto interno e não aceitam pressão por regulação externa que intefira em seu congresso. (Por acaso eles teriam alguma forma de manter o CO2 que emitem dentro de seu territorio nacional? Não seria uma boa forma de fazer com que o assunto realmente seja interno?)
  • Ainda por McKibben: Mas o poder da indústria dos combustíveis fósseis está refletido no texto, que estende o período de transição de tal forma que danos sem fim serão causados ao clima. Já que o ritmo é a questão crucial agora, precisamos redobrar esforços para enfraquecer a indústria.

Vejam bem, se levamos 25 anos para acabar com a negação, por quantos anos mais a indústria tem força para protelar seu próprio fim em nome dos lucros e retornos de investimentos?

O movimento atual acaba de criar um condenado a morte: A indústria de combustíveis fósseis. Esta indústria irá calmamente caminhar para seu derradeiro fim? Irá ela manisfestar um pouco de honra e rasgar seu ventre num nipônico rito Seppukku? Irá tentar reparar os males causados e sacrificar-se em nome do planeta e de suas espécies, em nome da vida?

Se a história diz alguma coisa, eu aposto que ela irá tentar nos arrastar, a todos, junto com ela para o fim.

É neste ponto que devemos convocar a ação a sociedade civil. Precisamos mais do que os governos e o segmento dos cientistas. Precisamos de mobilização, de pressão da sociedade civil, de atos que impulsionem esta transformação numa velocidade suficiente para que possamos viver num mundo saudável e harmonico.

Chamo atenção aqui daqueles que tem o poder de convocar as mobilizações, para que o façam. Esta é a hora!

Mantenha-se Conectado!

 

(21) 2235-0375